segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O Mundo Secreto de Valentina...

"Lá vem Valentina, anjinho valiosamente esperado, pequena valência d'um sopro divino, um hino entre ela, sua bárbara bela e sua valentia!"
distintoeu


quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

O Gato Mágico - 2007

O Gato Mágico
Por: Bárbara Ramos
Na Vila da Memória, morava uma pequena família: D. Sulamita e seus dois filhos, Belita com 7 anos de idade e Carlinhos com 5 anos.
D. Sulamita se tornou uma mulher muito amargurada depois que seu marido não mais voltou para a casa. O Sr. Carlos era caixeiro viajante, e numa de suas viagens ficou por aí, em algum lugar do mundo. Durante muito tempo ela ia para a beira da estrada e esperava por horas e horas à fio... Até que um dia fez-se claro dentro de si aquilo o que mais temia, e conclui: “Ele não voltará mais!”.
Durante a semana D. Sulamita lavava roupa “para fora”, e nos fins de semana fazia bolos e tortas para vender. Batalhava muito para sustentar a casa e os filhos, pois agora estava sozinha! Toda a vizinhança comentava:
- Quanta vergonha! Deus que me livre!
- D. Sulamita? Mulher tão boa que nem o marido quis...
Gente maledicente! ...
Carlinhos era um garoto tímido, sonhador e ficava sempre pelos cantinhos.
Já Belita era menina arteira. Na escola era indesejada pelas professoras e coleguinhas, sempre ouviam-se gritos:
- Pára com isso!!!
- Não mexa naquilo!!!
- Saia de perto de mim menina chata. Você nem tem pai!
E um sentimento perigoso tomava conta daquele coração: era a raiva! Em casa também não era bem aventurada. Chegava da escola e ia correndo ficar ao lado da mãe. Prendia os cabelos compridos, arregaçava as mangas e repetia os gestos da mãe ao lavar as roupas; até os gritos ecoarem pela casa:
- O que está fazendo? Já não me bastam as roupas que tenho para lavar?
- Quero ajudar a senhora, faço com muito gosto mamãe!
- Não pedi sua ajuda, vá brincar e me deixe trabalhar sozinha!
Sentia o coração apertado, sem-graça entrelaçava o dedinho entre as fitas do vestido e ia embora. “Vou assistir os garotos brincarem na rua. Podem até me proibir de brincar com eles, mas não podem me proibir de assisti-los.” – pensava. Sentava na calçada e assistia a vida acontecer.
Um dia, os garotos se esbaldavam na rua numa brincadeira um tanto cruel. Com estilingues nas mãos, apostavam quem conseguia acertar o maior número de pássaros, e acabaram acertando também uma vidraça. A vizinha, enfurecida, esbravejou.
- Infeeeeeeeeeeeerrrrrrrrrrrrrrrrno, sumam daqui demônios!
O grupo logo se dispersou em meio gargalhadas e muita folia. Belita ria de longe da bagunça dos garotos, e viu no chão um objeto. Levantou de súbito, observou se a vizinha não estava mais lá, se aproximou... era o estilingue de um dos garotos que fora deixado para trás. Rapidamente colocou-o embaixo do casaco e voltou correndo para a casa. Entrou no quarto, fechou a porta, pegou o objeto... e olhou, contemplou, o sentiu em suas mãos e pensou: “Hum! Vou experimentar!”. Foi para o campo que ficava um pouco mais distante da Vila. Ao chegar, respirou fundo e os olhos procuravam como um animal em busca da presa. Errou o primeiro passarinho, o segundo, o terceiro... e no quarto pássaro... TUM! A mira foi certeira. Correu com ânsia para admirar seu feito, viu o pássaro agonizar no chão.
- Bicho imbecil! Se tem asas para voar, por que não foge de minhas pedras?
Tomou gosto pela coisa. A partir daí os animais padeceram nas mãos de Belita. Quando não eram os pássaros; gatos e cachorros corriam aflitos com latas amarradas em seus rabos. E a menina pensava que se divertia com isso.
Em uma tarde, ao passar por uma das ruelas da vila à procura de suas vítimas deparou-se com um lindo gato negro, de olhos verdes e arregalados, seu pêlo tinha um brilho encantador, era gato bem tratado!
- Eeeeeei, você é novo por aqui!
O bicho chamou a atenção da menina pela sua beleza, e mesmo porque não era comum ver gatos pretos por ali, as pessoas eram muito supersticiosas. 
“Nenhum animal passa por essa vila sem levar minha marca!” – pensou. Se aproximou docilmente...
- Shuí, shuí, shuí, shuí... venha cá bichano, quero brincar com você!
O gato olhava para Belita como se a “namorasse” e miava...
- Miaaaaaaaaaaaaauuu.
Ela chegava perto e ele saía, ela se aproximava e ele saía, assim ela o foi seguindo. Quando deu por si estava em uma mata fechada! Olhou ao redor...
- Onde estou? Não conheço este lugar. Para onde você me trouxe gato safado?
Sentiu raiva do bicho e começou a correr atrás dele, mas não conseguia pegá-lo. Sua raiva aumentava.
- Gato safado, vou colocar fogo no seu rabo!
E o gato corria e Belita corria atrás dele. Ficaram horas nesse pega-não-pega, até que em determinado momento, Belita já ofegante, ficaram frente à frente, olharam-se nos olhos e ...
FFFFFFSSSSSSSSSSXXXXXXXX
O gato virou fumaça na frente da menina! Uma fumaça multicor, azul, amarelo, lilás, vermelho, laranja, verde... e tinha cheiro de flores! A menina se assustou, pois nunca vira nada igual.
- Uuuuuuuaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!!!!!!!!!!!!!!
O medo tomou conta do seu corpo, ficou paralisada com os olhos estatelados!
- Romromromrom.... Olá Belita!
- Aaaahhhhh, quem é você?
- Ggggrrrrr... sou sua imaginação, até então adormecida....miauuuuurrrrrr.
- Minha imaginação??? Mas gatos não falam!
- E quem disse que não? Não estou a falar com você? Rrrrr. Meu nome é Rudá, e vim lhe ajudar a enxergar o que há de verdade dentro de você Belita, numa linguagem Universal... Miaaaauuuuu.
- Linguagem Universal??? Do quê está falando?
- Estou falando do que há em tudo e em todos... romromrom. Muitas vezes, minha pequena, deixamos adormecer dentro de nós a essência da vida. Cada um de nós a faz dormir por motivos diferentes... seja pelo ritmo árduo do tempo, pela solidão, pelo desafeto ou pela apatia... Olhe ao seu redor pequena, sinta a vibração que há no mundo e em todas as coisas que nele estão, sinta suas cores, formas, texturas, gestos, palavras, aromas e profundidade de tudo o que existe. Viver não é apenas passar pela vida... deixe que ela penetre pelos seus poros e toque o seu coração.
Belita se sentia enfeitiçada pelas palavras de Rudá... seus olhos tinham um brilho diferente... O gato, muito dengoso, e sempre a ronronar se entrelaçou nas canelas da garota, e naquele exato momento Belita sentia uma energia indescritível tomar conta de si, e não era só de seu corpo... Belita sentiu que tinha alma! Um filme passava na tela de sua mente, era o filme da vida, e ela sentiu a força do perdão, da renúncia, da beleza, da leveza e sentiu... sentiu o AMOR! E não se importava se as pessoas não a amassem porque ela era capaz de amar... e simplesmente amar! As lágrimas escorreram de sua face e fertilizaram seu coração.
- Rudá!!!! Eu posso amar?????!!!!!!
- Gggrrrrrr... sim minha querida, todos nós podemos!
Olharam-se e despediram-se com o silêncio. Belita saiu correndo para voltar para casa, não sabia que caminho percorria, mas corria, corria, e sentia que tinha asas e que podia voar!
Encontrou o caminho da Vila e chegou em casa, entrou feito louca e agarrou as pernas da mãe.
- Mamãe eu a amo tanto que não me importo o que sinta por mim. Eu te amo mamãe!
Ao abraço forte da menina, como uma transfusão, D. Sulamita sentiu algo percorrer pelo corpo, e não era seu sangue... era AMOR. Abraçou a filha e chorou! Chorava de felicidade, sentia paz depois de tantos anos de amargura. As palavras saíram de seu coração...
- Me perdoe minha filha! Eu também amo vocês!
Carlinhos chegou assustado e viu a cena que nunca mais sairia de sua lembrança... sorriu como nunca havia feito antes, e se atirou no meio das duas, que deram boas gargalhadas com espontaneidade do piquirruxo.
Aquela vibração se espalhou pela Vila, e da Vila passou para as cidades vizinhas, que passou para os Estados, para os Países... e tomou conta de todo o mundo! De todo o Universo!
As pessoas passaram a amar umas as outras, independentemente de serem ou não da mesma família, pois o AMOR não tem parentesco. As pessoas aprenderam a se desfazer de suas “miudezas”. Tudo era intenso, verdadeiro e grandioso.
As tortas de D. Sulamita ficaram muito mais gostosas, a energia das mãos passada para o alimento alimentava o coração das pessoas.
E o Mundo num suspiro de alívio... conseguiu sorrir!
Todas as noites, Belita olhava pela janela de seu quarto e procurava por Rudá: “Se queres me encontrar olhe para dentro de si pequena... gggrrrrr”.
Belita sorria e sua imaginação permitia que visse o gato arteiro brincar dentro da Lua. Conversavam sobre tudo por horas e horas...
- Rudá, por que você tem esse nome?
- De onde venho sou a Divindade do Amor, Belita!
- E de onde você vem?
- Isso... já é outra história pequena... romromromromr....
Belita aprendeu a ser amiga do Tempo...
- Boa noite Rudá!
- Boa noite Belita, durma com anjos... miaaauuuuurrrrrr.

E para quem não acredita nessa estória...
Eu sugiro então, que deixe a fantasia
Transbordar de seu coração.

Criação de Tudo - Mambembe Teatro Poético

No início de Tudo, o Existir era único, único e silencioso... E de tanto existir em seu silêncio, pensou... E se sentiu só quando percebeu que não havia com quem compartilhar seu pensamento...

Existir resolveu então partilhar o que lhe era Único.

Criou as estrelas, os cometas e os planetas. Criou o sol, para que aquecesse seu silêncio. Mesmo com toda a beleza que criara em seu espaço... Ainda sentia-se só. Existir não bastava.

Pensou... pensou estrelas... pensou cometas... pensou planetas... Cada planeta seu espaço, cada espaço movimento... O que então iria se mover? Existir pensou... pensou... pensou planeta, pensou espaço, que estava dentro de outro espaço. E em seus pensamentos, reuniu tudo de mais forte e belo que havia em si, e criou o mar... e os seres marinhos para que o mar não se sentisse só.

Mas Existir ainda queria mais, e criou o som. Como seria o barulho das águas? Quando ouviu o barulho das águas pela primeira vez, Existir transbordou e foi assim que criou os rios, a terra, o fogo, o vento, a chuva, o dia, à noite, as plantas e os animais.

Existir não se sentia mais sozinho. Durante muito universo Existir contemplou sua criação. Recarregava suas energias ao assistir a dança das ondas, o cair das chuvas, a mutação das cores no céu... e percebeu que em toda sua criação havia vida. Agora não era mais única vida, eram vidas únicas. E pensando, Existir percebeu uma fissura em sua vontade.

Pensou, pensou... pensou fogo, pensou terra, pensou céu... Olhando para o céu Existir se esqueceu de pensar, e passou a sentir. Lembrou-se do sentimento de solidão em outrora, mas como aquele sentimento não mais cabia... apenas sentiu.

Existir sentiu as cores do céu, sentiu o calor do fogo, sentiu o brincar das águas... sentiu. Sentiu saudade... Mas saudade? O que era a saudade? Uma sensação de vazio?

Não. Era saudade amor. Existir sentiu amor... o mar brotou de seus horizontes e Existir chorou. Chorou de amor. Chorou de tanto amar.

As lágrimas caídas por terra viraram barro...

E foi assim que Existir criou a alma.

Sentiu harmonia, e sentiu que era hora de partir. Existir estaria presente em vibração, em movimento, em inércia... mas era hora de partir...

E deixar que sua criação se criasse.

Ao partir Existir deixou no céu uma mensagem.

Minha mensagem está no céu, está em todos os lugares

Está em tudo o que vedes, em tudo o que sentis... em tudo que alma.

Sois terra, água, fogo e ar

Tendes em vós a natureza de amar.

E se em algum momento pensais que estais sozinho... olhai ao redor, senti ao redor

Olhai para dentro de vós, e lembrais de como fostes criado.

Nascestes de minhas lágrimas... nascestes do mar de amor que há em Mim.

Sois livre para trilhar vossos caminhos

Mas não esqueçais, que tendes em vós a natureza...

A natureza de amar.


Autor(a): Bárbara Ramos

Revisão de Texto: Ricardo Aquino