sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Senhora das Tempestades - Manuel Alegre


Senhora das tempestades e dos mistérios originais
quando tu chegas a terra treme do lado esquerdo
trazes o terremoto a assombração as conjunções fatais
e as vozes negras da noite Senhora do meu espanto e do meu medo.

Senhora das marés vivas e das praias batidas pelo vento
há uma lua do avesso quando chegas
crepúsculos carregados de presságios e o lamento
dos que morrem nos naufrágios Senhora das vozes negras.

Senhora do vento norte com teu manto de sal e espuma
nasce uma estrela cadente de chegares
e há um poema escrito em páginas nenhuma
quando caminhas sobre as águas Senhora dos sete mares.

Conjugação de fogo e luz e no entanto eclipse
trazes a linha magnética da minha vida Senhora da minha morte
teu nome escreve-se na areia e é uma palavra que só Deus disse
quando tu chegas começa a música Senhora do vento norte.

Escreverei para ti o poema mais triste
Senhora dos cabelos de alga onde se escondem as divindades
quando me tocas há um país que não existe
e um anjo poisa-me nos ombros Senhora das Tempestades.

Senhora do sol do sul com que me cegas
a terra toda treme nos meus músculos
consonância dissonância Senhora das vozes negras
coroada de todos os crepúsculos.

Senhora da vida que passa e do sentido trágico
do rio das vogais Senhora da litúrgica
sibilação das consoantes com seu absurdo mágico
de que não fica senão a breve música.

Senhora do poema e da oculta fórmula da escrita
alquimia de sons Senhora do vento norte
que trazes a palavra nunca dita
Senhora da minha vida Senhora da minha morte.

Senhora dos pés de cabra e dos parágrafos proibidos
que te disfarças de metáfora e de soprar marítimo
Senhora que me dóis em todos os sentidos
como um ritmo só ritmo como um ritmo.

Batem as sílabas da noite na oclusão das coronárias
Senhora da circulação que mata e ressuscita
trazes o mar a chuva as procelárias
batem as sílabas da noite e és tu a voz que dita.

Batem os sons os signos os sinais
trazes a festa e a despedida Senhora dos instantes
fica o sentido trágico do rio das vogais
o mágico passar das consoantes.

Senhora nua deitada sobre o branco
com tua rosa dos ventos e teu cruzeiro do sul
nascem faunos com tridentes no teu flanco
Senhora de branco deitada no azul.

Senhora das águas transbordantes no cais de súbito vazio
Senhora dos navegantes com teu astrolábio e tua errância
teu rosto de sereia à proa de um navio
tudo em ti é partida tudo em ti é distância.

Senhora da hora solitária do entardecer
ninguém sabe se chegas como graça ou como estigma
onde tu moras começa o acontecer
tudo em ti é surpresa Senhora do grande enigma.

Tudo em ti é perder Senhora quantas vezes
Setembro te levou para as metrópoles excessivas
batem as sílabas do tempo no rolar dos meses
tudo em ti é retorno Senhora das marés vivas.

Senhora do vento com teu cavalo cor de acaso
tua ternura e teu chicote sobre a tristeza e a agonia
galopas no meu sangue com teu catéter chamado Pégaso
e vais de vaso em vaso Senhora da arritmia.

Tudo em ti é magia e tensão extrema
Senhora dos teoremas e dos relâmpagos marinhos
batem as sílabas da noite no coração do poema
Senhora das tempestades e dos líquidos caminhos.

Tudo em ti é milagre Senhora da energia
quando tu chegas a terra treme e dançam as divindades
batem as sílabas da noite e tudo é uma alquimia
ao som do nome que só Deus sabe Senhora das tempestades.

Manuel Alegre

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Apenas Amor


Um Anjo faz da Lua sua gangorra...

O Anjo sorri para a Lua,
a Lua sorri para o Anjo.

O Anjo se lança, no silêncio, na andança
da rua que ladrilhou com pedras de brilhantes
para seu amor passar.

O ser amado passou e nem notou...
as pedras de brilhantes, as estrelas, a Lua... o Anjo.

O ser amante tornou-se invisível ao ser amado.
O amor que o Anjo sente é solitário? - pensaram as estrelas.

A lua disse:
Ei Anjo, amor de verdade
apenas ama!

O Anjo sorriu para a Lua...

E no vai e vem da sua gangorra
transbordou o seu amor sem desejar,
absolutamente, nada de volta.
Apenas sentia, pulsava.

Não existe amor solitário.
Amor preenche e transborda amor.
Disseram as estrelas.

BR.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

À João Pessoa/PB

A saudade inundou minha face.
Sinto saudades do lugar que revirou minha história.
Organizou e purificou minhas memórias...
Tocou minh'alma como abraço apertado.

O lugar onde a simplicidade e o calor humano se faz dança...
Como dança do Mar...
e se faz mar.

O dia reluz a dança das águas,
e sugere o horizonte do pensamento.
O Universo do lado daqui... do lado de lá.

A noite engole a linha do horizonte e assopra vento úmido.
Transpõe minha sensibilidade
Meus olhos não podem mais ver a linha mágica
Mas sei que ela está lá.
O Universo daqui
O Universo de lá.

Quero me casar com o mar.
Viver em eternas ondas salgadas que lavam minh'alma.
Em eternas quebras...
das ondas que trazem força e recomeços.

Quero me casar com o mar.

A saudade umedeceu meus olhos, inundou minha face.

E, quando sinto o gosto de minha saudade
Sinto o mar que ficou dentro em mim.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Noiva Cadáver


A noiva cadáver
vaga...

perambula entre tumbas,
dores e dúvidas.

A noiva.
Cadáver de um amor,
que lhe parecia sincero.

Tempo de Poesia

Em que tempo me perdi...
E deixei,
que o contrário me levasse.
Se o tempo me esquecesse...
Não teria o que lembrar.
E me lembrei,
do tempo de amar.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Vibração

Nos espasmos
de meus pensamentos
mergulho em teus olhos.

Penetro teu amar...
Sono conturbado
Imagens distorcidas
dissipadas na tela, na alma.

Submersa em suor
Imersa em ti.

A labareda que consome minha carne
Em nossos orgasmos telepáticos.

Bárbara Ramos 18/10/2007

domingo, 29 de março de 2009

Ainda vejo

Um dia ele apareceu na porta de minha casa, mais parecia um gato estrupiado.
"Por onde você andou?"
"Por aí, mas vim te ver."
Tive vontade de guardá-lo em mim.
Às vezes olho para o fim da rua e ainda o vejo vir.
Só eu vejo...
Apenas minha saudade vê o fim da rua.
E o fim da rua? Será que vê minha saudade?

Com Você

Sou menina porque me sinto protegida...
Sou mulher porque gozo vida...
Quando estou com você.


Mon Manège à Moi - Edith Piaf

Corrida Maluca

(Carontes, O Inferno de Dante)

“Senhoras e senhores, VENHAM!
VENHAM para a Corrida Maluca onde o objetivo é o poder, status, a glória de se estar no topo do mundo. VENHAM! Nessa corrida tudo é válido, as pessoas são os degraus. Vendam seus sonhos, seus sentimentos, esqueçam do que realmente são e venham para a nossa corrida! Não vale chorar, mas vale ludibriar. Matem, roubem, percam-se na entrada do Inferno, mas não percam o objetivo da nossa corrida. Vale a inveja, vale a luxúria, a base é a soberba. A cor da vida é verde, a direção é a tecnologia de ponta, o amor é sinônimo de ganância e tem o brilho do mais puro diamante... e o cheiro fétido do corpo em decomposição. VENHAM crianças, venham meus pequenos abortos, vocês são o futuro da nação. Deixem a magia e ingenuidade infantil no ventre materno e venham para o gélido ventre do mundo. Corrompam-se crianças... Suem sangue para ajudar o papai. Joguem seus brinquedos no lixo, pois nessa corrida só se brinca com a vida. Vovô e vovó, sinto em lhes dizer que desta corrida não participarão, não nos interessam seus olhos solitários e suas histórias repetitivas. Não nos interessa o passado, o velho, o esquecido. Só nos interessam o FUTURO!!! VENHAM meu escravos pretensiosos, venham para minha corrida contra o tempo. Ah! Pretensiosos por se acharem tão espertos... e escravizados por um pedaço de papel, combustível do mundo, da vida e da morte. Ou queres ser enterrado como indigente?!! VENHAM senhoras e senhores, a Corrida Maluca está quase no fim, a corrida do tempo, a corrida da vida. Mintam, se agridam, abortem seus sonhos, seus sentimentos, desprezem a beleza inútil da aurora, sujem a luz da lua com seu próprio sangue, corrompam a vida que acaba de iniciar-se, bebam das nascentes sua própria podridão, respirem o odor de borracha queimada da corrida maluca. Vislumbrem o caos, construam o caos, celebrem a solidão... Ah, e não se esqueçam senhoras e senhores: na corrida maluca não há tempo para se chorar a morte. Então, CORRAM.... !

Bárbara Ramos
20/11/2003

Que Horas Não São - Vitor Ramil

"O sol é a desculpa pra chorar..."

E a música a doce desculpa pra marcar...


Vitor Ramil, Marcos Suzano e Kátia B



quarta-feira, 25 de março de 2009

Mundo do Meio

Resultado de imagem para caminhos

Caminhavam pela infinita estrada
Que à eles parecia limitada
Encontraram um espelho
E quando se viram
Perceberam o mundo do meio...
Alguns ficaram desgostosos com o que viram
Outros enxergaram apenas imagens
E o caminho foi dividido
Entre os que viam e os que enxergavam


Bárbara Ramos

domingo, 4 de janeiro de 2009

Correnteza Interna

As mãos transpiram, e os olhos buscam
um apaziguador da dor.

As mãos transpiram...
sob o efeito da correnteza interna.

Mas calma, e acalma essa alma.
Mar calmo não faz marinheiro de verdade - já foi dito por aí.

Asserena a mente, a escrita e a fala.
Que as dores quando necessárias, tornam-se asas.

Veja agora aqui de cima, o mar que se acalma.

A correnteza interna se tornou rio
desaguando no mar.

BR - modificado em 2018